maio 21, 2010

Lula: o foguete que impulsiona o Brasil

Transcrevo abaixo o texto publicado hoje pelo colunista Luís Bassets no jornal espanhol El País, no qual a intermediação de Lula no acordo sobre a questão nuclear iraniana é analisado de uma maneira clara e imparcial, sem a antipatia e rejeição com as quais o assunto vêm sendo tratado pela imprensa brasileira. Segue:
                                                           
                                          

Diplomacia de Lula atua como foguete para situar o Brasil no alto do cenário global


A bola é o símbolo obrigatório da ascensão do Brasil como superpotência. Sua brilhante tradição desportiva obriga a avaliar em termos futebolísticos seus crescentes sucessos econômicos e diplomáticos. Foi o que fez o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, na hora de qualificar o acordo obtido por seu presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, junto com o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, e o presidente Mahmoud Ahmadinejad, sobre o programa iraniano de enriquecimento de urânio: "O Brasil só colocou a bola na área".
Muitas são as interpretações provocadas por esse compromisso tripartite, que segue os passos da última tentativa pilotada pela ONU para evitar que o programa iraniano desemboque na fabricação da arma nuclear; e pelo qual Teerã se compromete a entregar à Turquia 1.200 quilos de urânio pouco enriquecido, dos quais devolverá aos iranianos um décimo, por sua vez enriquecido a 20%, para uso médico.
De Washington pode ser considerada uma jogada dos novos países emergentes para fechar a passagem à quarta série de sanções econômicas que os EUA estavam preparando e que apresentaram na terça-feira, poucas horas depois da assinatura dos três em Teerã. De Israel, onde seu governo desconfia das sanções diante de um regime que consideram uma ameaça existencial, cabe considerá-lo uma bofetada em Obama, que enche de razão os que aprovam a destruição por meios militares das instalações nucleares iranianas. Da Europa só se pode interpretar como o que é, em qualquer dos casos: essa bola que situa o Brasil no meio do palco e em troca desaloja os que tiveram o maior destaque nos últimos anos, tanto através do chamado Grupo 5+1 (os cinco do Conselho de Segurança, dos quais dois são europeus - França e Reino Unido -, mais a Alemanha) como do Alto Representante da União Europeia, Javier Solana, a quem os seis delegaram o grosso da negociação, coisa que não fizeram com sua sucessora, Catherine Ashton.
Os interesses da Turquia e seu primeiro-ministro desembocam diretamente na região à qual Lula viajou em duas ocasiões nos últimos três meses. Estão em jogo as relações de vizinhança e a liderança regional, embora também conte a concorrência com a Rússia. Para o Brasil, por sua vez, tudo se aposta na melhora do estatuto internacional do grande país sul-americano. Lula se colocou em um cenário reservado até quarta-feira às velhas superpotências pela mesma infalível regra de três com que seu país se incorporou ao G-20 na hora de enfrentar a crise financeira, ou entrou na cozinha decisiva da Cúpula de Copenhague sobre mudança climática.
Essa atitude corresponde a uma política internacional de cunho realista, que é conduzida sobretudo pelos interesses do Brasil como potência americana com vocação global. É uma aposta que compete diretamente com os europeus, cuja nutrida presença nas instituições internacionais, além de acentuar sua cacofonia e sua capacidade divisora, não faz mais que salientar a antiguidade de uma arquitetura internacional que se mantém quase intacta desde que terminou a última guerra mundial, há 65 anos.
Lula sempre desenvolveu uma grande atividade internacional. Mas este ano de 2010, o último de sua presidência, registrou um salto qualitativo, marcado por dois deslocamentos ao exterior que indicam como sondas a profundidade da vocação do Brasil. O primeiro o levou em março passado ao Oriente Médio, região geográfica que jamais havia ocupado um presidente brasileiro. O segundo o levou agora a Teerã e lhe proporcionou o raro privilégio de se encontrar com o guia supremo da revolução, o aiatolá Ali Khamenei, algo que só está ao alcance de uma lista muito restrita de mandatários estrangeiros.
Com sua imagem de bonomia proletária e seu enorme prestígio, Lula está atuando como um foguete propulsor do Brasil na nova etapa geopolítica multipolar. Está bem claro que como parte de seu legado político quer deixar o Brasil situado o mais alto possível no cenário internacional, e especialmente bem colocado em suas apostas institucionais. Daí que queira jogar um papel no processo de paz do Oriente Médio e agora em um conflito como o que o Ocidente mantém com o Irã, diretamente ligado à política de não-proliferação. Lula centrou a bola, que agora está dentro da área. Mas são seus sucessores que deverão começar a marcar os gols, como nos melhores tempos da seleção amarela.

* Texto de Luís Bassetes publicado em 21/05/2010 pelo jornal espanhol El País 

maio 17, 2010

As notícias que a imprensa brasileira não queria dar

  • Dilma assume ponta nas pesquisas e Brasil emplaca acordo para programa nuclear do Irã

Os fatos ocorridos nas últimas horas estão obrigando a imprensa brasileira a mostrar como nunca a sua indisposição às noticias que contrariam seus interesses. Sim, porque há muito a imprensa brasileira deixou de cumprir seu compromisso com a verdade e a ética para servir aos interesses de alguns poucos setores totalmente alheios a essas virtudes. Vamos aos fatos.
No sábado (15/05) foi divulgada mais uma pesquisa eleitoral para a disputa presidencial, desta vez pelo instituto Vox Populi, e para a surpresa geral (da imprensa), pela primeira vez a candidata petista Dilma Roussef aparece a frente do tucano José Serra; 38% contra 35%. Mesmo mantido o empate técnico já verificado anteriormente, a nova pesquisa apresenta uma importante inversão nas posições dos dois principais candidatos na disputa. Mais do que isso, derruba as expectativas dos tucanos de que a saída de Ciro Gomes da disputa aumentaria a distância entre Serra e Dilma. Mais ainda, pela primeira Dilma aparece a frente de Serra também na simulação do 2º turno; 40% contra 38%.
Diferentemente das anteriores, esta pesquisa simplesmente foi ignorada pelos veículos de imprensa, passando longe dos noticiários. Globo deixou passar ileso o seu Jornal Nacional; Folha e Estado de São Paulo sequer escreveram uma linha noticiando a virada na corrida presidencial, portais na Internet como o UOL simplesmente trocaram a notícia por manchetes sobre esportes e música. As pesquisas eleitorais que até pouco tempo atrás mereceram espaços consideráveis na mídia, curiosamente agora deixam de ter importância. Uma conicdência muito bem ensaiada.
Na manha desta segunda-feira (17/05) o Brasil conseguiu o que poucos no mundo achavam possível e o que muitos no Brasil torciam contra: o acordo com o Irã sobre as questões nucleares. Mais de vinte horas de negociações depois os chefes dos países assinaram um acordo que envolve a Turquia como depositária do urânio iraniano e abre um caminho definitivo para o fim das pressões ao país do oriente. Além disso, coloca de maneira definitiva o Brasil no centro da diplomacia mundial e quase que irrecusávelmente como menbro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
Dias antes, a missão brasileira liderada por Lula foi desacredita pelos EUA e teve pouco crédito da Russia. Mesmo assim, ao partir para o Irã, recebeu apoio uníssono de diversos países, inclusive esses dois, da ONU, e dos organismos internacionais, que deram ao Brasil a última chance de negociação com Teerã antes da imposição de sanções punitivas. E eis que Lula volta do oriente com um documento assinado por Ahmadinejad, com todos os ítens exigidos pela ONU sendo atendidos. Era o que o mundo esperava  ancioso.  Mas será que os brasileiros compartilhavam desse mesmo anceio?
Como não podia deixar de ser, o desejo de alguns pelo fracasso brasileiro no Irã era grande e refletia o desejo de mesmo tamanho dos mesmos alguns pelo fracasso do brasileiro Lula no Irã. A missão vista com receio e descrédito pelos americanos e russos, aqui no Brasil foi vista com ironia, chegando a ser citada como "o circo brasileiro no Irã". Agora, o sucesso brasileiro que já está sendo noticiado nos principais jornais do mundo é relatado pela imprensa brasileira como um simples acordo, com as ressalvas de que um ingênuo Lula estaria colocando o Brasil em uma posição perigosa no cenário internacional. Mas com o sucesso desse acordo, aumentaram instantaneamente os rumores de que o lugar no Conselho de Segurança da ONU que o Brasil tanto deseja passaria agora  a ser inegável, e a candidatura-eleição de Lula para o cargo de Secretário Geral da ONU que os líderes mundiais tanto ecoam pelos bastidores passaria a ser questão abertamente considerada.
Quem sabe em 2011 a imprensa brasileira não seja obrigada a mudar seus conceitos. Caso contrário será obrigada a tratar o Conselho de Segurança da Onu como o tal lugar perigoso no qual o Brasil foi colocado por Lula, o tal ingênuo escolhido pelos espertos e escaldados líderes mundiais como fígura máxima da ONU.

maio 11, 2010

E agora, FHC?? - Parte 02

Acostumado ao bom trato da imprensa brasileira, que sempre manteve microfones a postos para tudo que lhe era conveniente dizer, FHC se aventurou em mais uma entrevista na posição de ex-presidente do Brasil. Mas dessa vez, ele não estava diante de algum jornalista da Folha ou Estadão, nem mesmo era a Globo a emissora na qual o programa era transmitido; FHC participou do Hard Talk, programa de entrevistas da BBC apresentado por Stephen Sackur, conhecido pelo suas perguntas diretas e pertinentes, bem diferentes das perguntas que FHC responde no Brasil no melhor estilo "deixa que eu chuto". 
Sackur questionou FHC de forma dura e veemente sobre vários aspectos da política nacional atual e passada, apresentou dados contradizentes aos do tucano, e deu uma demonstração clara de que os países estão sim voltados para o que acontece aqui dentro. Para infelicidade de FHC. Desta vez só lhe restou buscar as bolas no fundo da rede. 

Vejam abaixo a entrevista, em duas partes: