janeiro 16, 2012

Globo: a mídia que estupra

Ana Flávia Ramos, do blog Tab na Rede

Quem não se lembra do filme The Accused (1988 – Jonathan Kaplan), protagonizado por Jodie Foster, que consagrou a atriz por uma interpretação notável? Filme aclamado pela crítica, impactante e polêmico em sua essência, narra a história de uma jovem, Sarah Tobias, que, após uma noite de diversão com as amigas, é estuprada por vários homens nos fundos de um bar. No desenrolar da trama, com o auxílio de uma advogada, Sarah, que no início é vista como “responsável” pela violência, consegue a condenação de seus agressores, reafirmando a tese de que, independente do flerte, da bebida, das roupas ou de qualquer outra coisa, estupro é sempre estupro. No enredo, vitoriosamente prevalece a máxima: sim significa sim e não significa não! Durante o julgamento, entretanto, outros agravantes foram mobilizados pela advogada para condenar também os cúmplices daquele terrível caso: o estupro de Sarah morbidamente contou com uma platéia entusiasmada que, aos gritos, incitava o ato de violência. A cada novo agressor, a platéia pedia “bis”.
Para quem esteve ligado nas redes sociais no último domingo (15/01/12), sabe que a lembrança do filme não é fortuita. Desde ontem, o assunto do suposto estupro sofrido por Monique em rede nacional no Big Brother Brasil não sai de nossas cabeças e nem de nossas timelines. A cena, para quem viu no paperview, enoja, deprime e indigna. Uma mulher, desacordada e vulnerável, tem o seu corpo violado e invadido por alguém que, ao que tudo indica, não foi convidado. Aparentemente sem consciência e sem meios de reagir, a vítima estava entregue ao seu agressor, Daniel, em frente às câmeras, à equipe técnica e à enorme platéia do outro lado da televisão e do computador.  Aquilo que era feito nos fundos de um bar perde os seus “pudores” e se torna diversão pública e explícita na TV.

Muitas questões têm surgido desde que a cena virou polêmica nacional: Monique sabia o que estava acontecendo? Ela compartilhou as carícias de Daniel? Houve sexo? Ela se lembra do que ocorreu? A despeito dos comentários moralistas, machistas e misóginos – que me recuso a discutir, pois já estou farta de tentar argumentar com quem insiste na imbecilidade – outro fato me chamou a atenção: o papel da platéia nesse “show de horrores”. Quem estava presenciando a tudo e nada fez? A responsabilidade do ato, além de Daniel, se ficar comprovado o estupro, deve ser estendida a quem mais? Assim como os espectadores do estupro no filme The accused, qual o papel da maior emissora de TV do país no caso?

Nas cenas do dia seguinte, Monique dava indícios de que não sabia exatamente o que havia ocorrido na noite anterior. Intrigada, após ter sido chamada no confessionário, pergunta à Daniel o que, de fato, acontecera naquela noite. O brother nega o sexo, dizendo que foram apenas beijos e umas passadas de mão, e claramente se esquiva do assunto.

Monique, confinada em um reality show, sem contato com o mundo exterior, não sabe que o Brasil discute seu suposto estupro. Possivelmente violentada enquanto dormia, ela é também “violentada” pela produção do programa, quando esta se nega a informá-la exatamente sobre que está ocorrendo. Omissão grave, já que esta era a equipe a quem a participante confiou sua segurança, ao aceitar participar do programa, um ambiente teoricamente controlado e protegido por regras e parâmetros de bom senso, garantidores, ao menos, da integridade física dos jogadores. Entretanto, a produção se abstém de dizer o que de fato está acontecendo e deixa Monique, mais uma vez, à mercê de seu eventual algoz. Embora ela tenha direito à verdade, ela continua indefesa na escuridão, como a do quarto em que estava na noite de sábado, permanecendo também na insegurança das camas compartilhadas do programa. Daniel, já anteriormente acusado de ter se aproveitado de Mayara, segue ileso pelos corredores da casa e sequer é questionado pelos responsáveis do reality show. Monique parece ser vítima duas vezes.
Independente da posterior averiguação do caso e da condenação ou não de Daniel, existe um cúmplice a quem não se pode negar a culpa: a Rede Globo de Televisão. A emissora, na madrugada do domingo, reconheceu as evidências de um possível crime (no plantão de notícias do paperview os responsáveis pelo programa escreveram que estava “rolando um clima”, mas que a “loira não se mexia”), se utilizou dessas evidências para alavancar o seu ibope, incitando os telespectadores a continuarem a assistir às cenas, mas, em momento algum, tentou (ou desejou) interromper o ato. No dia seguinte, diante da polêmica e dessas evidências, se absteve, ainda, de revelar à Monique o que ocorrera, negando assim o direito essencial da participante de decidir se devia prestar queixa à polícia ou não.  Os produtores, cúmplices da suposta violência, ao esconderem as cenas de Monique, negaram-lhe, entre outras coisas, o direito de realizar o exame de corpo de delito, instrumento fundamental na comprovação da agressão. E quem se responsabilizará por isso?

O histórico de barbaridades no BBB já não é novo, mas quais serão os limites do programa após um suposto estupro em cadeia nacional? Como será interpretada pelas autoridades públicas e pelos telespectadores a omissão da Globo diante do caso?  A emissora, de forma tirânica e desleal, seguiu com o espetáculo, reduzindo o episódio, através de seu fiel porta-voz, Pedro Bial, a “muito amor”. Através de uma edição impregnada de machismo e, por que não, de moralismos arcaicos, deixou Monique à mercê da situação e sequer prestou contas ao público, que ainda debate intensamente nas redes sociais a saída/punição de Daniel. Como uma concessão pública, que serviços à comunidade são prestados por essa emissora de TV? Qual a responsabilidade social da Rede Globo com seus telespectadores? Ou ainda a pergunta que nos atormenta a cada dia: o que tem sido e para quê tem servido a grande mídia no Brasil?
Nesse sentido, a pressão e as críticas dos brasileiros e telespectadores é cada vez mais fundamental na mobilização de forças não somente para a solução desse caso, mas também na construção de uma nova mídia.

janeiro 15, 2012

Cracolândia: o tiro saiu pela culatra

Por Mário Simas Filho

A desorientada polícia de Alckmim

Informado de que em abril o governo federal iria anunciar seu programa nacional de combate ao crack, o governador Geraldo Alckmin procurou sair na frente e logo depois do Réveillon deflagrou uma operação para livrar São Paulo da chamada Cracolândia, símbolo maior do problema das drogas no Brasil. Os paulistanos foram surpreendidos na terça-feira 3 com a notícia de que mais de uma centena de PMs estava tomando alguns quarteirões na região central da maior cidade do País, que, de forma inaceitável, há anos vêm sendo ocupados por uma legião de dependentes químicos de crack e por pequenos traficantes. Imediatamente, vozes mais sensatas passaram a criticar a ação. Antes de ser uma questão de polícia, a Cracolândia é uma ferida aberta que expõe diariamente a falência da saúde pública no Estado e no País. Um problema social que os seguidos governos tucanos em São Paulo não conseguiram equacionar. Ao usar policiais contra figuras cadavéricas em flagrante processo de definho por causa das drogas, o governo conseguiu “espalhar” a Cracolândia para asruas vizinhas e mostrou que sua polícia está tão desorientada quanto o PSDB para escolher seus candidatos. Mais de dez dias depois de iniciada, a contabilidade da operação é um tiro no pé. Dezenas de comerciantes e centenas de moradores dos bairros próximos aterrorizados, diversas denúncias de agressões praticadas pelos homens fardados contra os desnutridos e imagens de policiais disparando contra os viciados correndo o mundo. De concreto, nenhum grande traficante preso, menos de 500 gramas de crack apreendidos e o vexame de constatar que o Estado e a Prefeitura de São Paulo não dispõem de uma estrutura capaz de atender dignamente a um punhado de dependentes. 

O Ministério Público definiu a ação como “desastrosa” e o caso já está na pauta das entidades internacionais de Direitos Humanos como mais um episódio que mancha a reputação do Brasil. O governo tentou se justificar afirmando tratar-se de uma ação articulada, pois depois da polícia viriam os agentes sociais e as internações. Logo se percebeu que a falada articulação está bem próxima da harmonia mostrada pelos bonecos de ar de propaganda em postos de gasolina. A vice-prefeita de São Paulo, Alda Marco Antônio, declarou que apenas em março um galpão preparado para receber e tratar os dependentes da Cracolândia estará pronto para funcionar. Se não fosse a trapalhada pressa do governador, é possível que hoje os traficantes não estivessem rindo do governo – e vendendo pedras de crack na frente dos policiais – e os contribuintes estivessem mais satisfeitos.
 
 

janeiro 13, 2012

Os intelectuais criados pela grande mídia

Desde a primeira eleição de Lula para presidência, a sociedade brasileira vêm passando por transformações profundas. A ascenção de um representante da classe operária ao poder despertou um sentimento de orgulho em grande parte da população. As conquistas na área econômica que se seguiram  permitiram o desenvolvimento de amplos programas sociais por parte do governo. A melhora nas condições de vida desta parcela da população deixou de ser momentânea para se tornar consolidada, e nesta onda mais de 20 milhões de brasileiros ingressaram na chamada classe C.

Por um lado, presenciamos um grande esforço do governo para uma melhor distribuição de renda e erradicação da pobreza, e uma elevação social de grande parte da população brasileira. Em contrapartida, as ações do governo em favor das classe mais humildes geraram um profundo desconforto na elite brasileira, confortavelmente acomodada e acostumada com as generosidades de governos anteriores. Desconforto que evoluiu gradativamente na mesma proporção e rapidez que evoluiram as classes mais humildes da sociedade.

Como sempre ocorreu no Brasil, a elite valeu-se do seu fiel e poderoso aliado que a tanto tempo lhe presta serviço: a velha mídia. Nunca antes na história desse país a mídia brasileira escancarou de forma tão pavorosa suas preferências políticas e sociais como vêm ocorrendo durante os mandatos de Lula e Dilma. Claramente vestindo a camisa fina da elite, os grandes veículos de mídia assumiram o papel de oposição, tão mal exercido pela oposição de fato, e passaram a despejar na sociedade uma enxurrada de lama escondida atrás da palavra "jornalismo". Unidos, formaram espontaneamente o maior e mais poderoso partido de oposição (não oficial) da história brasileira, o PIG - Partido da Imprensa Golpista. Globo, Folha, Estadão, Veja são alguns dos seus principais integrantes.

Aproveitando-se do poder que sempre teve, o PIG plantou na sociedade brasileira a semente do preconceito extremo contra as classses menos favorecidas. A imprensa livre deu lugar a imprensa irresponsável e a ética jornalística foi superada pelo preconceito descarado. Surgem então ídolos da "elite intelectual" brasileira: Ricardo Azevedo, José Neumane, Miriam Leitão, Eliane Catanhêde, entre outros.

Agora, após o cuidadoso plantio e cultivo, a semente plantada pelo PIG está dando frutos. As manifestações preconceituosas vêm se espalhando nas mídias sociais de maneira rápida e crescente, sem a menor preocupação dos que se manifestam em exprimir tais opiniões. Para quem pensou que o ápice do ódio elitista foram as comemorações públicas quando da notícia que o presidente Lula sofre de câncer, sinto informar que isso foi só uma pequena amostra. Recentemente, as ações abusivas da PM paulista nos casos da USP e da Cracolândia, inclusive com agressões evidenciadas em fotos e vídeos, foram comemoradas em diversos blogs e sites pelos "intelectuais" que o PIG formou na sociedade.

Sobre as ações na cracolândia, onde dependentes químicos recebem o tratamento do "sofrimento e dor" imposto pelo governador e médico Geraldo Alckmin, pudemos ler coisas do tipo no blog do Reinaldo Azevedo, ou, o Rei, assim chamado pelos seus seguidores:

Sonia Regina - 13/01/2012 às 11:59
Achei muito correto fazer a “faxina” nas ruas Helvetia e adjacentes pois eu acredito que sujeira dá desanimo e energia ruim.

Renata - 13/01/2012 às 11:01
Muito semelhante ao que andou acontecendo na USP, não é?
 
Elouquisa - 13/01/2012 às 8:20
Que tal montar a nova cracolândia em frente ao comitê do PT?Os urubus que cuidem de seus filhotes!É uma vergonha!Cidadãos de SP,reajam a essa covardia!

 
Já que foi citada por um dos "intelectuais", pudemos ver os seguintes comentários sobre os casos recentes de agressões da PM na USP: contra um negro, que teve até um revolver apontado na sua direção, e uma grávida que foi empurrada e jogada ao chão pela rasteira de um policial:

Genario - 12/01/2012 às 9:52
O policial agiu sob stress, errou, mas o fato é que essa turma estivesse estudando ao invés de anarquizar bens publicos, nada disso teria ocorrido, causa e efeito. E falando francamente, um curso que se chama “ciências da natureza” tem cara de ser direcionado aos doutores queimadores de mato

Fernandes - 10/01/2012 às 23:01
Era só um bode expiatório que os extremistas da usp queriam para justificar o pedido de retirada da PM da usp, e o policial caiu direitinho. Eles querem que a usp se transforme numa cracolandia.

walter santos - 10/01/2012 às 14:36
Tem q chegar o pau nesses vagabas , levar todos presos e deitar a borracha nesses vagabas.

Ana Pestana - ontem às 16h54
Duvido! Aposto que é mentira. Faz parte da campanha para espantarem a polícia e fumarem maconha à vontade! O que fazia uma grávida ocupando espaços, em protesto? O que me deixa indignada é saber que tanta gente queria entrar na USP e esse povo não valoriza. Que raiva saber que a gente que paga o estudo dessa gente.

Antonio Carlos Ourique de Carvalho - SAO PAULO/SP há 12 horas
Estudante grávida de 25 anos resultado de transação com marido?, amante?, ou um dos que frequentam seu corpo? O PT utiliza estratégias e táticas do partido nazista. Um delas é colocar asseclas em todos os órgão públicos (especialmente). Parece que está faltando na direção da USP. Liberdade total para drogados que obtem dinheiro para comprar droga de que forma? Será que na mídia existem muitos viciados? ACOC

Dr. Destino - ontem às 17h52
Não vejo nenhuma diferença entre essa aluna e as grávidas da cracolândia.



Sem mais comentários...